Adoecimento mental no trabalho

Uma questão crucial para o avanço das discussões no campo da Saúde Mental, ainda não foi devidamente esclarecida: 

Existe ou não uma relação entre  transtornos mentais e trabalho? 



Na realidade, as tentativas de resposta a tal questão deram origem a uma polêmica cujo desfecho ainda parece distante. De um lado, encontram-se aqueles que percebem em alguns contextos de trabalho um potencial patogênico, sendo, portanto, passíveis de gerar transtornos mentais nos indivíduos que a eles forem expostos. (cf. Sivadon, P. [1993], Le Guillant, L, [1985]).

De outro, estão os que consideram os transtornos mentais, em geral, como decorrentes das estruturas de personalidade forjadas antes da entrada do indivíduo no sistema produtivo. 

Mas o que encontramos na literatura mundial colocou em evidência, acima de tudo, um paralelismo estreito entre o adoecimento mental apresentado pelos trabalhadores afastados e as mudanças introduzidas nas empresas. 

Tal levantamento indica que entre os afastados, em diversos casos, os sintomas iniciais consistiam de dores lombares (56%), nos braços, colunas, etc, que evoluíam para a depressão. No entanto, apareceu também muitos casos em que o quadro depressivo era o problema inicial, podendo culminar no alcoolismo e nas tentativas de autoextermínio. 

No que concerne ao alcoolismo, muitos trabalhadores afastados associaram diretamente esse problema à pressão que sofriam na empresa, ao trabalho em turnos e à fadiga provocada pelo grande número de horas-extras. O álcool os ajudaria a suportar melhor as pressões do dia-a-dia, permitido-lhes relaxar e dormir, principalmente, quando eram obrigados a repor o sono noturno e a repousar durante o dia, contrariando seu “relógio biológico”. 

Quanto ao suicídio, eclodiu vários casos sugestivos de uma relação entre os problemas vividos no trabalho, o quadro de depressão ou mesmo as tentativas de auto-extermínio. Em alguns deles, a depressão parecia relacionada com as pressões sofridas no trabalho, em outros, com o medo do desemprego e, em outros ainda, o elemento desencadeador era o fato de o trabalhador ter sofrido ou presenciado um acidente grave. 

No manual elaborado pelo Ministério da Saúde, em 2001, encontramos uma boa síntese dos elementos presentes nos contextos laborais que podem afetar negativamente a saúde mental dos assalariados. 

Possíveis causas

Segundo seus autores, a contribuição do trabalho para as alterações da saúde mental dá-se a partir de uma ampla gama de aspectos: 

-exposição a determinado agente tóxico, 
-complexa articulação de fatores relativos à organização do trabalho, 
-divisão e parcelamento das tarefas, 
-as políticas de gerenciamento
-estrutura hierárquica organizacional. 
-a falta de trabalho, 
-ameaça da perda do emprego (pois ameaçam a subsistência e a vida material do trabalhador e de sua família). 
-ambientes que impossibilitam a comunicação espontânea, 
-manifestação de insatisfações, 
-Jornadas de trabalho longas, com poucas pausas destinadas ao descanso e/ou refeições de curta duração, em lugares desconfortáveis, 
-turnos de trabalho noturnos, 
-turnos alternados ou turnos iniciando muito cedo pela manhã; ritmos intensos ou monótonos; 
-submissão do trabalhador ao ritmo das máquinas, sob as quais não tem controle; 
-pressão de supervisores ou chefias por mais velocidade e produtividade causam, com freqüência, quadros ansiosos, fadiga crônica e distúrbios do sono.

Além disso, foi identificado outros fatores causais como  abusos cometidos pelas chefias e distorções nas políticas da empresa como contribuintes para o adoecimento. 

Os transtornos mentais ocupam o 3º lugar nos afastamentos do INSS. Um estudo realizado em 2007 pela Unifesp, em parceria com o Ministério da Saúde, revelou que metade dos afastamentos do trabalho ocorre por transtornos mentais. Diante desse quadro a prevenção é um fator primordial e determinante. 

A promoção da saúde mental e emocional dos funcionários visa reduzir custos, evitar o desgaste profissional, pessoal e familiar, diminuir a quantidade de afastamentos e, por conseqüência, reduzir o número de contratações temporárias por parte das organizações. Um trabalhador afastado repercute em todos os níveis, gerando sobrecarga para os outros funcionários, desgasta a imagem do afastado perante a empresa, diminui sua auto-estima e repercute no relacionamento familiar. 

A promoção de saúde mental se dá por meio de ações que propiciem mudanças de atitudes, como educar a chefia e funcionários para que eles tenham ferramentas que possibilitem identificar sintomas e sinais de maneira precoce, sem estigmas e preconceitos, prevenindo os custos diretos e indiretos que esses problemas acarretam quando diagnosticados tardiamente. 

O programa de saúde mental deve atuar na promoção, prevenção, intervenção, remediação e reintegração quando necessário. 

E você, já passou por algo semelhante? 

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